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sábado, 23 de junho de 2018

Melania Trump e a jaqueta que causou o caos
















As fotos da primeira-dama embarcando no voo que a levaria ao Texas rodaram a internet ilustrando críticas ao uso da peça de roupa MANDEL NGAN/AFP
Não havia mensagem oculta na frase escrita. A pergunta é: quem era o público-alvo?
Vanessa Friedman – Folha de S.Paulo (Nova Yok)
 “EU REALMENTE NÃO ME IMPORTO, E VOCÊ?” 
Quando a primeira-dama dos EUA, Melania Trump, em uma visita humanitária de surpresa a um abrigo de crianças no Texas, subiu ao seu avião vestindo uma jaqueta verde-oliva da marca Zara com essas palavras rabiscadas em branco nas costas, como uma pichação, fez o mundo que assistia entrar no que se poderia chamar, com certa discrição, de fusão. 
Insensível, impiedosa e impensada foram algumas palavras atiradas pela digisfera sobre sua escolha.
Ela tem razão, é claro. Não estava oculta. Estava literalmente escrita nas costas da primeira-dama. A pergunta é: quem era o público-alvo?
A suposição implícita na indignação é que a mensagem se destinava àqueles que Melania ia encontrar. Mas é aí que está a coisa: a primeira-dama já teve certa experiência da atenção que atrai quando embarca em aviões.
Ela sabe que todo mundo estará olhando. Lembram-se de agosto passado, quando ela andou pela pista na Base Aérea de Andrews com enormes saltos stiletto de Manolo durante a crise da enchente no Texas
Na época, os sapatos pareciam simbolizar seu enorme distanciamento do trauma, e ela foi alvo de grande infâmia por sua escolha.
Ela bem sabe que nada que uma primeira-dama veste é “apenas” qualquer coisa, especialmente nada que ela vista para um evento público em que ela permanece em silêncio, mas sabe que será fotografada —como a experiência com os saltos altos no Texas lhe teria ensinado (e a seus assessores).
Aceitar a ideia de que ela simplesmente pôs a jaqueta da Zara só porque estava à mão e talvez ela sentisse um ligeiro frio (ou coisa parecida) é simplesmente inacreditável.
Especialmente porque desta vez Melania decidiu usar algo da marca Zara, do mercado de massa, em vez de suas habituais Dolce & Gabbana ou Ralph Lauren. Esta é uma primeira-dama, afinal, que decidiu usar uma saia xadrez de Balmain de US$ 1.380 durante um evento de jardinagem na Casa Branca. Ela não é alguém que se veste high/low em público —pelo menos nunca foi desde a eleição. Ela foi high o tempo todo, aparentemente. 
Então como interpretar essa jaqueta, um estilo de acordo com a estética autoprotetora que ela desenvolveu desde que entrou na Casa Branca, a não ser como um indício de que Melania pensava no que as pessoas iriam ler nas roupas que escolhesse para visitar crianças que ficaram efetivamente sem nada? 
A jaqueta, afinal, que segundo informações está esgotada e não é da atual temporada, era vendida por US$ 39 (R$ 146). Deve ser a roupa menos cara que a primeira-dama usou como representante do governo. 
Depois há o fato de que ela nunca se esquivou de codificar comunicação dirigida, não necessariamente popular, em seu guarda-roupa. Afinal, ela usou um terno branco de calças —o uniforme da oposição liderada por Hillary Clinton— no primeiro Discurso sobre o Estado da União de seu marido. 
Tudo isso sugere que há muito poucas chances de que ela não soubesse o que estava fazendo com aquele casaco “Eu realmente não me importo”. (A Zara não quis comentar.)
Então quem era o alvo da mensagem nada oculta? O fato de que ela havia retirado a jaqueta quando desembarcou no Texas talvez indique que não eram, de fato, as famílias que estão no centro do problema da imigração. Além disso, há diversas alternativas possíveis, quando se pensa a respeito. 
Houve a interpretação de seu marido, conforme expressa em seu meio de comunicação favorito, o Twitter: “’Eu realmente não me importo, e você?’ escrito nas costas da jaqueta de Melania se refere à Mídia das Fake News. Melania aprendeu como eles são desonestos e realmente não se importa mais!”
Ou talvez a parte “eu realmente não me importo” se destinasse aos críticos da política de seu marido. Talvez tivesse o intuito de dizer a todos que ela não fazia parte da formação dessa política, ou não era responsável por transmitir a indignação de todos sobre tal política. 
Talvez fosse dirigida a seu marido. (O pessoal do “liberte Melania” gostará dessa ideia.) 
Ou talvez, apenas talvez, fosse uma mensagem para as pessoas que leem mensagens em suas roupas. Uma que dizia: “Vou usar o que eu quiser e não me importo com o que você pense”. 
Afinal, ela usou a jaqueta de novo ao desembarcar mais tarde em Andrews —sabendo de todo o comentário que havia causado, a confusão e o ressentimento, a distração do que segundo ela era sua mensagem principal de compaixão. Usou-a como que para dar uma prova direta das palavras em suas costas. Isso seria meio meta.
Melania Trump muitas vezes parece usar suas roupas como uma espécie de diário privado, mas um que é analisado por milhões de pessoas que não têm o resto do texto. Entre intenção e análise, pode haver um enorme abismo. É uma abordagem arriscada de seu papel.
E, por mais interessante que possa ser a ideia, desta vez pode ter dado errado.

Do Magno Martins

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