Foi um efeito rebote da baixa no ano, em -7,5% – o oposto do S&P 500, que sobe 7% em 2023. Lá fora, o mercado digere o payroll aumentando as apostas numa nova alta dos juros americanos. TAEE11 cai 3,14% após notícia sobre follow on.
O estômago dos investidores passou a segunda-feira pós-feriado digerindo uma mistura de ovo de páscoa e payroll – o relatório sobre o mercado de trabalho americano divulgado na última sexta-feira, quando as bolsas estavam fechadas aqui e lá fora.
O documento mostrou que, em março, o país criou 236 mil novas vagas de emprego, um pouco abaixo da mediana das previsões, que apontavam para 240 mil. Trata-se de uma queda de ritmo significativa: em fevereiro, a alta tinha sido de 326 mil vagas; em janeiro, 472 mil (os números foram revisados, com o de fevereiro um pouco acima do dado original e o de janeiro um pouco abaixo). Além disso, a taxa de desemprego se manteve praticamente constante, de 3,6% em fevereiro para 3,5% em março.
Apesar da desaceleração, os dados ainda mostram um mercado de trabalho aquecido. Para dar uma ideia: em 2019, antes do choque da pandemia e com a economia americana de vento em popa, o número de novas vagas só ficou acima de 200 mil em quatro dos 12 meses daquele ano.
Economia aquecida é algo intrinsecamente bom. Só não ajuda quando a prioridade do Fed é reduzir a inflação.
É aquela história: com a demanda de mão de obra em alta, os trabalhadores têm mais espaço para buscar reajustes salariais. Aí eles passam a gastar mais – e o dinheiro extra em circulação na economia se converte em mais altas nos preços. Ao mesmo tempo, as empresas podem repassar o gasto maior com salários para seus produtos e serviços, o que também adiciona à inflação.
Por isso, o Fed não deve encerrar o ciclo de aperto monetário até que veja uma desaceleração forte no número de vagas – coisa que o payroll da última sexta não mostrou. Agora, uma alta de 0,25 p.p. na próxima reunião do Fomc, que vai rolar em 3 de maio, é quase um consenso no mercado. 73,3% das apostas na CME, a bolsa mercantil de Chicago, vão nessa direção (com o resto prevendo a manutenção da taxa nos atuais 5%). Há uma semana, o placar era de 57,2% para uma alta de 0,25 p.p. versus 42,8% para uma de zero p.p.
Mais pistas virão na próxima quarta, quando sai o CPI (o IPCA deles).
E a reação das bolsas foi na linha disappointed but not surprised. O S&P500 subiu singelos 0,10%, enquanto a Nasdaq ficou no zero a zero mesmo, com queda de 0,03%.
Por aqui, o Ibovespa foi na contramão de suas irmãs gringas e fechou em alta de 1,02%. Sem grandes novidades tomando as rédeas do mercado, o índice teve espaço para um pequeno rebote diante da queda de 7,5% no ano. Lá fora, o movimento é o oposto: o S&P 500 sobe 7% desde o início do ano.
Falando em museu de novidades: Lula aproveitou sua fala de 100 dias de governo para questionar novamente a política monetária do BC: “Continuo achando que estão brincando com o país. Brincando sobretudo com o povo pobre e com os empresários que querem investir”.
O toma lá dá cá da Taesa
Na última sexta-feira, a Taesa anunciou que pretende fazer mais uma distribuição farta de dividendos, como de costume: 85% dos lucros de 2022 (R$ 1,4 bilhão). Dá R$ 1,24 bilhão – dos quais R$ 460 milhões já foram pagos em janeiro.
Segundo o comunicado, a proposta será discutida em assembleia geral em 27 de abril.
Só que, hoje, o Brazil Journal disse que a empresa pretende levantar entre R$ 1,5 bilhões e R$ 2 bilhões numa nova oferta de ações (follow on). Com a Selic nas alturas, esta é uma forma de arrecadar dinheiro sem recorrer a crédito. No caso da Taesa, o valor serviria para os leilões de transmissão de energia de 2023 e 2024, de acordo com as fontes consultadas pelo jornal.
O combo de informações confundiu os analistas: por que distribuir R$ 1,24 bilhão num dia e capturar outros R$ 1,5 bilhões no outro? Mais racional seria poupar nos dividendos, em vez de diluir os acionistas (na prática, quem quiser manter a posição acionária terá de usar a grana dos proventos recentes para comprar mais papéis, devolvendo o dinheiro à empresa). Diante das dúvidas que a notícia levantam sobre a governança corporativa da transmissora de energia, as ações tombaram 3,14%. Um pós-Páscoa indigesto.
Até amanhã.
Maiores altas
3R Petroleum (RRRP3): 5,65%
Alpargatas (ALPA4): 4,27%
Locaweb (LWSA3): 4,24%
Braskem (BRKM5): 3,99%
Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3): 3,77%
Maiores baixas
Hypera (HYPE3): -3,41%
Méliuz (CASH3): -3,37%
Petz (PETZ3): -3,33%
Taesa (TAEE11): -3,14%
Rede D´Or (RDOR3): -2,38%
Ibovespa: 1,02%, a 101.846 pontos
Em NY
S&P 500: 0,10%, a 4.109 pontos
Nasdaq: 0,03%, a 12.084 pontos
Dow Jones: 0,30%, a 33.585 pontos
Dólar: 0,16%, a R$ 5,06
Petróleo
Brent: -1,10%, a US$ 84,18
WTI: -1,19%, a US$ 79,74
Minério de ferro: -1,83%, a US$ 113,03 a tonelada na bolsa de Dalian
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